A Universidade de Coimbra, com mais de sete séculos de história, marca decisivamente a história do país e do mundo, através do seu património físico e da herança imaterial. Pela sua natureza, são especialmente importantes as diversas reformas ao nível do conhecimento e do ensino, destacando-se a reforma pombalina do último quarto do século XVIII, que introduz um novo modo de aquisição e transmissão do conhecimento.
A abertura ao ideário iluminista dá-se ainda durante o reinado de D. João V (1707-1750). Conjuntamente com as autoridades universitárias, foi vontade do monarca promover a atualização cultural e científica da instituição e, com ela, do Reino.
Lançadas as bases, o definitivo impulso reformista dá-se mais tarde, no reinado de D. José I e pela mão do seu ministro Marquês de Pombal e do Reitor-Reformador D. Francisco de Lemos. Guilherme Elsden, que chefiou o Gabinete de Obras da Universidade, é outro dos nomes fundamentais deste período. É das mãos destes homens que saem os vários desenhos ainda hoje preservados na Universidade e no Museu Machado de Castro, detentor de um notável acervo artístico. Estas peças permitem-nos conhecer não só os projetos (executados e não executados), como levantamentos prévios, preciosos para o conhecimento de espaços entretanto desaparecidos.
Extinta a Companhia de Jesus em 1759, e com ela os seus programas e práticas pedagógicas, a Universidade ganha novos estatutos em 1772, na busca por uma abertura renovada na aquisição do conhecimento. Foram criadas duas novas faculdades, reestruturaram-se as quatro existentes e construíram-se novos estabelecimentos e equipamentos científicos. A concretização da reforma pedagógica passou pela criação das necessárias infraestruturas capazes de responder aos novos conteúdos científicos, valorizando as ciências exatas e naturais, com forte componente de observação e experimentação.
A reforma pombalina promoveu uma notável campanha de obras através da remodelação de espaços existentes ou da construção de equipamentos de raiz. Foram criados o Hospital, o Teatro Anatómico e o Dispensatório Farmacêutico – todos no Colégio de Jesus – para apoio aos estudos médicos; um novo Observatório Astronómico, ligado à Faculdade de Matemática; os Gabinetes de História Natural e de Física Experimental, o Laboratorio Chimico e o Jardim Botânico, para apoio à Faculdade de Filosofia Natural; foi também instituída a Imprensa da Universidade.
Além da renovação interna, a reforma teve efeitos profundos na projeção externa que a Universidade conseguiu durante este período. Verifica-se uma intensificação da circulação das elites – cuja formação passava quase obrigatoriamente pela Universidade de Coimbra, a única no espaço lusófono à época –, organizam-se «viagens filosóficas» e implantam-se instituições de ensino inspiradas no modelo de Coimbra. Pode dizer-se que a reforma pombalina consolidou um espaço cultural comum, em português, já que é neste período que se institui o idioma como língua de ensino, à escala global.